Domingo, 14 de Março de 2010
As Bibliotecas e a Construção dos Conhecimentos
Decorreu entre um e cinco de Março na Biblioteca Escolar da nossa Escola 1), um conjunto de actividades à volta da leitura, dos livros, das imagens, da Internet e da interligação destas com a música e com outras formas de arte.
As acções envolveram toda a comunidade escolar, bem como a presença de destacados elementos ligados às diferentes áreas do conhecimento. De realçar o entusiasmo e a pertinência das questões colocadas pelos nossos discentes, mostra significativa do seu apreço pelo que viam e ouviam. Os alunos, essas curiosidades inquiridoras de saberes hão-de perpetuar o gosto pelas bibliotecas e pelo contributo que estas prestam ao ser humano; ficaram mais copiosos em sabedorias e conscientes de que as palavras são mágicas e é através delas que vamos modelando o conhecimento do mundo e a nossa auto-consciência.
A presença do poeta e escritor Hugo Santos, com quarenta e três obras publicadas e vinte prémios literários ganhos despertou grande interesse entre os nossos jovens, na medida em que um professo pensador e escrevinhador de utopias tem sempre algo do mundo dos sonhos para comunicar, algo de mágico que provoca nos alunos o gosto pelo encantamento e uma reflexão intuitiva sobre a força das palavras.
Percorremos mais de dois milénios e meio de História e falámos sobre papiros, volumina, códices, enfim, de livros e dos ‘revolvimentos’ que esses objectos provocaram na espécie humana e no planeta Terra. Percebemos o contexto em que surgiram ou como poderão ter sobrevivido as palavras dos livros; como foram usufruídos provavelmente por gente ‘simples’ e ‘poderosos’, atravessaram revoluções, ou foram salvos, in extremis de qualquer calamidade.
Compreendemos que cada livro tem uma história particular e que cada cérebro o lê e interpreta à sua maneira. Percebemos quão importante é hoje a consulta e a leitura da blogosfera como espaço cívico de conhecimento e de debate livre de ideias.
O livro acompanha-nos há muito. «Do mesmo modo, se o livro electrónico acabar por se impor em detrimento do livro impresso, há poucas razões para que este último seja expulso das nossas casas e dos nossos hábitos. O e-book não matará o livro. Assim como Gutenberg e a sua genial invenção não suprimiram de um dia para o outro o uso dos códices, nem este, o comércio dos rolos de papiro ou volumina 2).» Existe, isso sim, um ampliar do conjunto de oportunidades de registarmos os nossos conhecimentos e as nossas memórias. O filme ainda não trucidou a pintura, nem a televisão o cinema. A civilização ocidental sacralizou o livro. De certa forma, com a era da Internet quebrámos a antiga e costumada ligação estabelecida entre os discursos e a sua materialidade memorizada, os livros em formato tradicional. Alguns falam em subversão. Não serão antes sinais dos tempos, um assumir diferente no que diz respeito ao repositório das memórias!?
O importante mesmo é auto-conhecermo-nos e reflectirmos, é amarmos os livros e criarmos o gosto pela leitura e pela escrita, é desenvolvermos literacias e construirmos a partir das utopias do presente a sociedade do futuro sem esquecer as memórias que vêm desde o princípio dos tempos.
Adriano Milho Cordeiro
Adriano Milho Cordeiro
1)Escola Secundária com 3.º Ciclo do Entroncamento.
2) Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, A Obsessão do Fogo, Lisboa, Difel, 2009, p. 9.